terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Caminho da Paz



                                         

Mensagem para o Ano Novo    

O ano se abre com a celebração do XLV Dia Mundial da Paz.
Educar os jovens para a justiça e a paz, eis o desafio colocado para este ano.

No cenário internacional, em 2011, os jovens ocuparam o espaço, que bem administram, para exigir o fim de ditaduras e de poderes concentrados nas mãos de poucos.

Como bispo missionário a serviço da vida, com foco principal na promoção e defesa do direito humano ao alimento e à nutrição, encontro muitos jovens nas universidades. Embora não faça parte do meu mundo, vejo que superlotam os centros de compras e de lazer. Conectados com o mundo e ligados em redes sociais, nem sempre encontram um projeto que canalize suas energias e inquietude.

Com certa tristeza não os vejo participando tanto das Comunidades da Igreja, embora lotem espaços para curtir os Fé Shows. Não ignoro que bom número se identifica com Movimentos Eclesiais, bem  estruturados e respaldados pelo poder central da Igreja. O desafio permanente para os movimentos é a inserção na comunhão da Igreja. Redes e movimentos têm duração efêmera, por sua própria natureza. Com sabedoria e humildade, aprendemos a desconfiar da própria hora.

O que permanece é o Evangelho! A própria Igreja, através dos tempos, passa por crises benditas. Temos que aprender com Pedro Casaldáliga, a relativizar o relativo e absolutizar o Absoluto! Segundo o bispo catalão, absolutos somente Deus e a Fome. Ou seja, absoluta é a Vida, pois Deus é Vida. A fome, vontade irrenunciável de viver!

Na abertura do ano, a liturgia católica celebra a maternidade de Maria, mãe de Jesus, o Filho do Altíssimo, verdadeiramente gente como nós. Uma criança no colo de Maria ou da Benedita é sempre um sinal do caminho da paz.

A paz é verdadeira quando criança não morre criança! Pois a opção do desenvolvimento é gerar condições para que a vida seja preservada e fortalecida. Não há paz com degradação ambiental, com exclusão social, com miséria e fome. Num mundo em paz nada é desperdiçado ou acumulado. O desperdício e o acúmulo de bens geram conflitos e ameaçam o nosso próprio futuro.

Segundo a Zefa Alves de Araçuaí, ter sempre na vida o necessário, é muito! Como ensinava a cacique Rosa, num encontro de etnias indígenas do Estado de Minas Gerais, o que os olhos alcançam não cabe no estômago! Cada criança tem direito à porção indispensável e irrenunciável ao seu desenvolvimento e realização.

Bendito o mundo estruturado para acolher as crianças e garantir-lhes o espaço para se desenvolver em todas as dimensões da vida. Educação e Nutrição, binômio indissolúvel a ser entendido e respeitado, para que nossas crianças cresçam em idade, graça e sabedoria. Onde as crianças assim vivem, o povo é inteligente, saudável, criativo e bem humorado.

Vamos dialogar com a juventude, a partir da mesa da família. Não há educação sem a participação do "educando". O processo educativo me ajuda a descobrir quem eu sou; a ficar em pé para ser quem eu sou; a me relacionar com tudo e com todos, para ser quem eu sou; a levantar e caminhar cada dia, para vencer temores e angústias, mediocridade e acomodação, para que não me canse de ser quem eu sou! Relações harmoniosas me tornam saudável e pacífico.

Os jovens de nossos dias, como em todas as gerações, nascem para viver em plenitude. Dotados de energias transformadoras, dispondo de acesso ilimitado às informações, nos interrogam como as crianças sobre as ideologias que cultivamos e sobre o rumo da economia escudada com o rigor da ordem e do progresso. Bom recordar que informação submetida ao crivo do discernimento produz sabedoria. Clamam por vida com dignidade e liberdade na estrada da esperança. Nada mais nem menos, do que vida com justiça e paz.

Em 2013, no Brasil, haverá mais uma jornada mundial da juventude. Até lá muita água passará por debaixo da ponte. Os jovens podem nos surpreender e exigir que a Igreja se renove e se estruture em coerência com o Evangelho. Centralização, poder, dependência e submissão, são coisas velhas que não se harmonizam com o Reino. Comunhão, autonomia e participação são exigências do Evangelho.

Eis um novo ano! Contado a partir do nascimento de Jesus Cristo. A criança é o sinal. Nela somos abençoados com toda a sorte de bênçãos.

Quando repartires teu bocado com o faminto, tua luz brilhará (Isaias 58).
Sejamos iluminados e felizes em 2012.

+Mauro Morelli, bispo católico e peregrino
Parceiro do Povo e do Governo de Minas Gerais no CONSEA-MG e no CTSANS

Indaiatuba, SP, 27 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal - 2011


Viva a Vida!





Com esta mensagem de abertura do meu celular, recordo os dias de sofrimento após grave acidente automobilístico, em 2003. As noites no hospital angustiam o enfermo, pois as Trevas são a negação da Vida que é Luz. Quando amanhece o dia, o doente se alegra pois a Morte foi derrotada pela Força da Vida. Nada melhor, em cada manhã, do que celebrar a Vida e levantar para Viver.  

A caminho do Natal, oito anos após atravessar o vale da morte, recordo o anúncio de Isaías: O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz! A criança nascida em Belém, tendo crescido em idade, graça e sabedoria, peregrinando no meio de sua gente, assim define sua missão: Eu vim para que tenham Vida e a tenham em abundância.

Em homenagem a um companheiro muito querido, Pedro Casaldáliga, transmito a máxima que norteou seu caminho: Absolutizar o absoluto e relativizar o relativo! O que é absoluto, segundo o profeta do Araguaia? Deus e a Fome!

Como Deus é Vida e a Fome é vontade de viver: Absoluta é a Vida ! Na família, na sociedade e na Igreja, absoluta é a vida! Tudo o mais é relativo, segundo o próprio Evangelho.

Para os governantes absoluta é a vida de seu povo. Em que medida, por exemplo,  o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado e os planos intermediários expressam que a razão de ser do próprio governo é a vida do povo? A maior riqueza de  um Município, Estado ou País, é a sua sociobiodiversidade. Negócio da China se realiza, pois, no interior de sua jurisdição, não além fronteiras.

Ser cristão, uma honra; ser bispo, um perigo! afirmava Santo Agostinho. Ser brasileiro, uma bênção; ser governante, um perigo! Pois, o povo está nas mãos de bispos e pastores, de governantes e mandatários. O abuso do poder e a corrupção causam a desgraça da Comunidade Eclesial ou da Comunidade Política.

A vida é um processo permanente de alimentação, desde o instante da concepção. A fome de vida só Deus pode saciar de forma plena, pois não só de pão vive um homem.

Cabe à família, à sociedade, com suas instituições, e aos governos, em todos os níveis, garantir que o processo de alimentação de um ser humano seja assegurado e, assim, possa possa atingir maturidade até a plenitude. Não se trata de caridade, nem de assistência ou benemerência, mas de um direito humano básico.

Para testemunhar e anunciar os valores do Reino que fundamentam uma sociedade comprometida com a vida, tornei-me peregrino a serviço do direito humano ao alimento e à nutrição.

Neste terceiro milênio somos desafiados a rever nossos projetos de desenvolvimento em respeito às fontes  da vida e à necessidade de garantir os alimentos que a sustentam e nutrem.

Uma decisão política que exige sabedoria e coragem para discernir o caminho que nos conduza à verdade que liberta e ao amanhecer do dia em que justiça e paz caminharão de braços dados.

Num mundo com um bilhão de famintos; uma nova economia, sem concentração de riqueza e sem desperdício, justa e solidária, tornou-se demanda impostergável para a paz na família humana e a preservação do próprio Planeta. Uma questão ética, com certeza.

Urge encontrar a fórmula econômica que garanta a cada criança, que é dada à luz neste planeta, a porção que lhe permita viver com dignidade e cidadania. Criança não nasce para viver uns poucos dias, ensina o profeta Isaias.

No Natal, a criança é dada como sinal e caminho da paz. Acolher a criança é acolher o futuro da vida na terra. Eis que ela chega com perguntas contundentes e clamando pelo direito de viver de forma saudável, inteligente, criativa e bem humorada. 

 Feliz Natal sem miséria e sem os males da fome.Viva a Vida!


+Mauro Morelli, bispo católico e peregrino

Indaiatuba, SP, 08 de dezembro de 2011