quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal - 2011


Viva a Vida!





Com esta mensagem de abertura do meu celular, recordo os dias de sofrimento após grave acidente automobilístico, em 2003. As noites no hospital angustiam o enfermo, pois as Trevas são a negação da Vida que é Luz. Quando amanhece o dia, o doente se alegra pois a Morte foi derrotada pela Força da Vida. Nada melhor, em cada manhã, do que celebrar a Vida e levantar para Viver.  

A caminho do Natal, oito anos após atravessar o vale da morte, recordo o anúncio de Isaías: O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz! A criança nascida em Belém, tendo crescido em idade, graça e sabedoria, peregrinando no meio de sua gente, assim define sua missão: Eu vim para que tenham Vida e a tenham em abundância.

Em homenagem a um companheiro muito querido, Pedro Casaldáliga, transmito a máxima que norteou seu caminho: Absolutizar o absoluto e relativizar o relativo! O que é absoluto, segundo o profeta do Araguaia? Deus e a Fome!

Como Deus é Vida e a Fome é vontade de viver: Absoluta é a Vida ! Na família, na sociedade e na Igreja, absoluta é a vida! Tudo o mais é relativo, segundo o próprio Evangelho.

Para os governantes absoluta é a vida de seu povo. Em que medida, por exemplo,  o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado e os planos intermediários expressam que a razão de ser do próprio governo é a vida do povo? A maior riqueza de  um Município, Estado ou País, é a sua sociobiodiversidade. Negócio da China se realiza, pois, no interior de sua jurisdição, não além fronteiras.

Ser cristão, uma honra; ser bispo, um perigo! afirmava Santo Agostinho. Ser brasileiro, uma bênção; ser governante, um perigo! Pois, o povo está nas mãos de bispos e pastores, de governantes e mandatários. O abuso do poder e a corrupção causam a desgraça da Comunidade Eclesial ou da Comunidade Política.

A vida é um processo permanente de alimentação, desde o instante da concepção. A fome de vida só Deus pode saciar de forma plena, pois não só de pão vive um homem.

Cabe à família, à sociedade, com suas instituições, e aos governos, em todos os níveis, garantir que o processo de alimentação de um ser humano seja assegurado e, assim, possa possa atingir maturidade até a plenitude. Não se trata de caridade, nem de assistência ou benemerência, mas de um direito humano básico.

Para testemunhar e anunciar os valores do Reino que fundamentam uma sociedade comprometida com a vida, tornei-me peregrino a serviço do direito humano ao alimento e à nutrição.

Neste terceiro milênio somos desafiados a rever nossos projetos de desenvolvimento em respeito às fontes  da vida e à necessidade de garantir os alimentos que a sustentam e nutrem.

Uma decisão política que exige sabedoria e coragem para discernir o caminho que nos conduza à verdade que liberta e ao amanhecer do dia em que justiça e paz caminharão de braços dados.

Num mundo com um bilhão de famintos; uma nova economia, sem concentração de riqueza e sem desperdício, justa e solidária, tornou-se demanda impostergável para a paz na família humana e a preservação do próprio Planeta. Uma questão ética, com certeza.

Urge encontrar a fórmula econômica que garanta a cada criança, que é dada à luz neste planeta, a porção que lhe permita viver com dignidade e cidadania. Criança não nasce para viver uns poucos dias, ensina o profeta Isaias.

No Natal, a criança é dada como sinal e caminho da paz. Acolher a criança é acolher o futuro da vida na terra. Eis que ela chega com perguntas contundentes e clamando pelo direito de viver de forma saudável, inteligente, criativa e bem humorada. 

 Feliz Natal sem miséria e sem os males da fome.Viva a Vida!


+Mauro Morelli, bispo católico e peregrino

Indaiatuba, SP, 08 de dezembro de 2011



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