segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Matutando ... a caminho de Salvador (2)



O centro do mês de outubro é a criança.
Além da mãe e do pai, entre tantas outras presenças, a criança precisa da professora e de alimento para atingir seu desenvolvimento integral. Não sem razão, em outubro, comemoramos o dia da professora e do professor e o dia mundial da alimentação.

Desde o instante maravilhoso e bendito em que foi concebida no seio da mãe, como semente prenhe da força da vida, não pára de se desenvolver embalada no processo dinâmico e permanente da alimentação e nutrição. A seu tempo e com rítmo próprio e peculiar ao ser humano, sua vida vai se desdobrando e se manifestando com as expressões singulares e maravilhosas do corpo, da alma e  do espírito.

A realização integral da criança é  responsabilidade de sua família, da sociedade com suas instituições e dos governos. A Constituição Federal proclama que comer e beber para viver é um direito humano básico. A mesma Constituição determina que haja um programa de alimentação nas escolas para que o desenvolvimento integral da criança seja assegurado pelas mãos que incentivam a descoberta de si mesma e do mundo em que vive e, ao mesmo tempo, devidamente alimentada e nutrida possa assumir a alegria e a responsabilidade de ser gente.

Assim, educação e nutrição tornam-se um binômio indissolúvel. Esta é a minha compreensão da Lei Federal 11.947/09 com novas determinações sobre o programa de alimentação escolar. Um direito a ser garantido, alimentos devem ser saudáveis, adequados e solidários, uma questão de educação e alimentos produzidos no bioma em que se vive e por quem come o que produz!

Não queiramos inventar a roda. Para superar o quadro vergonhoso e criminoso de miséria e fome, sem dúvida a escola é o segundo, quando não o primeiro espaço, em que a criança encontra condições para atingir de foma global seu desenvolvimento.  Escola de tempo integral, neste nosso Brasil, é a medida certa para garantir a formação e desenvolvimento de um povo saudável, inteligente, criativo e bem humorado.

Como o programa cobre apenas duzentos dias do ano letivo, sugiro que seja transformado em programa de alimentação e nutrição do escolar ou estudante. Obviamente com novas determinações que, em todos os dias do ano, garantam ao estudante a alimentação saudável e adequada seja na  escola ou em sua casa.

À luz do binômio citado, como assistir passivamente ao sucateamento das precárias instalações de ensino e de educação em nosso mundo rural. Ainda, hoje, o jornal O Globo publica matéria de grande relevância sobre pesquiza realizada por três professoras por encomenda do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.

Quando iremos atender aos pressupostos para a superação dos males da miséria e da fome: libertação do analfabetismo e estrutura fundiária regulada por uma política agrária e agrícola que proporcione condições à  agricultura familiar para cumprir sua vocação e missão?

Enquanto alimento for convertido em moeda, haverá degradação ambiental, miséria e fome na face da terra. Em verdade, somos desafiados a fazer opção por um outro modelo de desenvolvimento que não gere exclusão social e reparta os dividendos do progresso, conforme antiga proposta do Movimento pela Ética na Política.

O mundo rural tem direito a um projeto pedagógico de educação alimentar e nutricional peculiar e coerente com a vida e missão das famílias que dão lastro à democracia e não à balança comercial.

Na zona rural, segundo a reportagem, comovente é o apelo das crianças e a dedicação de professoras e professores. O jornal informa que trinta e sete mil escolas foram fechadas e outras quarenta e três mil se encontram em estado quase calamitoso. O estado da educação no campo, além de deboche, é crime de lesa pátria.

 

Convido os tweeteiros a retransmitir a mensagem lúcida e democrática do MST : Fechar Escola é Crime.

Matutando .... a caminho de Salvador. Não tenham medo. A verdade liberta.

Sem raiva, mas com intensa e profunda indignação apresentemos propostas em favor de uma sociedade justa, fraterna e  solidária, em que criança não morre criança por causa da miséria e dos males que a acompanham. A Miséria é filha predileta da Riqueza. Pobreza é outra coisa, não é o problema.

Indaiatuba, 31 de outubro de 2011

+Mauro Morelli, bispo católico e peregrimo

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Matutando...a caminho de Salvador (1)




Depois de doze anos de caminhada em Minas Gerais, participando da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, em diálogo com os governantes, aprecio muito o jeito mineiro de ser e de viver. Aliás, mineiro e gerazeiro! Onde estou, de onde eu vim e para onde eu vou?... matuta o mineiro na encruzilhada.

A informação mais o discernimento produz a sabedoria. As  encruzilhadas trazem um pouco de nossa identidade e, sem dúvida, pela opção sobre o rumo a seguir, ajudam a definir nossa personalidade.
Cuidado...que as barreiras e rejeições não nos impeçam de continuar o caminho e nem tirem a nossa alegria de viver. Escolha a vida! Não entremos no jogo da corrupção e da morte.

Num grave período da nossa história, na primeira metade do século XX, nascendo e crescendo num mundo rancoroso e guerreiro, surge o grande profeta Josué de Castro. Ninguém até hoje supera o profeta nordestino, aclamado entre sábios e eminências de seus dias, pela crítica contundente à fome no mundo, descendo às suas raizes e apontando caminhos.

Não foi na Sorbonne, mas nos mangues de Recife, que Josué de Castro, com o vigor da indignação pelo aviltamento e destruição do ser humano, decifrou o enigma da miséria e da fome. "... atuando sobre seu espírito, sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta social. Nenhuma calamidade é capaz de desagregar tão profundamente e num sentido tão nocivo a personalidade humana como a fome" (A Geografia da Fome - Prefácio - 1946).  

Não é uma fatalidade! Em 1963, descrevia uma situação que se revela hoje mais aguda  e explosiva:  "Na realidade, a fome sempre existiu perto da riqueza e da abundância. O que é novo no mundo é a consciência que os povos famintos têm da realidade social e da sua condição, e  a impaciência que estes povos famintos experimentam para se libertar de sua fome e de sua miséria".

Peregrino desde a primeira hora em que o Movimento pela Ética na Política lançou a Ação da Cidadania para a superação da miséria e dos males da fome, como discípulo de Cristo e admirador da sabedoria e da coragem de Josué de Castro, quero partilhar um pouco das minhas dúvidas e perplexidades  nas encruzilhadas de nosso caminho que também deve passar por Salvador.

Minas Gerais, tendo realizado sua Vª Conferência Estadual, precedida de 25 conferências regionais, participará da IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, na Bahia, de 07 a 11/11, com 81 delegados representando a sociedade civil e o governo.

Depois de ter coordenado a primeira conferência nacional, com a participação do Presidente Itamar Franco, em 1994; participei das outras duas em Olinda e Fortaleza, durante o Governo Lula. Por ocasião da próxima conferência, em função da mesma causa a que me dedico em tempo integral, estarei no 5º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, em Porto Alegre, RS, de 08 a 11/11. Fui convidado a refletir com os congressistas sobre "A Extensão Universitária confrontada pela Miséria e pela Fome no Século XXI"

Continuo atento ao processo em curso. Oportuna e importunamente estarei matutando...a caminho de Salvador. Aguardem neste espaço. Com meus setenta e seis anos de idade, tenho muitas perguntas e cada dia menos certezas. O Evangelho adverte que uma casa construída sobre areia não resistirá à força do vento. Não queiramos fazer em oito meses o que não foi feito em oito anos!

A vida nos surpreende cada manhã. Não me ocupo do cultivo do agrado, mas persisto acreditando na força da semente e não desisto de caminhar na esperança, ainda que seja de tranco em tranco.


+ Mauro Morelli
Bispo católico e peregrino

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO - 2011

DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO 16/10/2011



 PREÇO DOS ALIMENTOS

DA CRISE À ESTABILIDADE




Neste ano, a Organização das Nações Unidas para o Alimento e a Agricultura, ao promover o Dia Mundial da Alimentação, adverte que o aumento do preço dos alimentos pode agravar o quadro de exclusão.
Cada vez mais nos distanciamos da meta definida pela Cúpula Mundial da Alimentação (Roma-1996) de reduzir pela metade, até 2015, o número de seres humanos dizimados ou desfigurados pela fome.

Na época, oitocentos milhões; hoje, em todo o mundo, o número de famintos já ultrapassa a sigla de um bilhão! O próprio USA conta com mais de 40 milhões de “cidadãos” abaixo da linha da pobreza. Segundo o Banco Mundial, no último ano, 70 milhões de pessoas foram empurradas abaixo da linha da pobreza. 

O agronegócio que se caracteriza pela política de monetarização de alimentos, procura se esconder atrás das mudanças climáticas para justificar o alto custo dos alimentos, fingindo ignorar que a sua prática de monetarização dos alimentos prioriza a monocultura e degrada o meio ambiente através da aplicação criminosa de insumos condenados. Admiro e louvo a coragem do cineasta Silvio Tendler pela contundente denúncia em seu filme “O Veneno está na mesa”. Com subsídios e incentivos dos governos, a própria agricultura familiar é submetida ao uso de insumos tóxicos que afetam a saúde dos trabalhadores e colocam veneno na mesa das famílias. 

O atual modelo econômico e seu projeto de desenvolvimento jamais nos conduzirão à segurança alimentar e nutricional sustentável; como ficou demonstrado pela aventura da revolução verde. Esta foi a intuição do Movimento pela Ética na Política e o clamor da 1ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar, em 1994.

Procurando-se desqualificar a qualidade e a capacidade de produção de alimentos saudáveis e adequados para consumo da população, apregoam-se o alto custo e o ritmo da produção dos mesmos.

A resposta se encontra na ousadia em optar por novo modelo de desenvolvimento e nova economia como exigências de saúde pública e de futuro para a própria humanidade. Implantar um sistema de segurança alimentar e nutricional sem modificar o modelo de desenvolvimento, significaria alimentar ilusões e dar adeus à esperança.

A alimentação e a nutrição tornam-se cada vez mais uma questão de segurança nacional e prioridade da agenda política. Alimento é vida! Sem oxigênio e água, sem ternura e leite materno, sem pão e vinho, sem outros frutos da terra e do trabalho humano, a vida desfalece e os dias cessam.

O Papa Bento XVI, na encíclica “Caridade na Verdade” (2009), ajuda-nos a entender que não se trata de caridade e de assistência social, mas de um direito humano básico que exige mudanças não só de hábitos alimentares, mas do próprio modelo de desenvolvimento.  

Para a Igreja, a exclusão social que leva o ser humano a definhar e morrer por falta de acesso ao alimento é problema ético. Ainda, segundo Bento XVI, a resposta coerente com a realidade iluminada pela Fé nos leva a contribuir para salvar a vida do Planeta e a construção da paz.

Alimento é caminho da paz. Neste milênio os conflitos se anunciam pelo controle dos recursos naturais. Com um bilhão de famintos no mundo como sonhar com a paz?

Assim, pois, torna-se urgente o anúncio do Reino de Deus, do sentido e destino da criação e da vocação à vida em comunhão, através de testemunho, diálogo e compromisso com a preservação das fontes da vida e promoção do direito humano ao alimento e à nutrição. Grande desafio, a motivação e formação da juventude para levantar e a caminhar em busca de uma terra livre dos males da miséria e da fome.  A sociedade que cultiva a justiça e partilha o pão através de uma economia solidária, não convive com famintos e necessitados.

No Brasil, além das condições e recursos necessários, dispomos de precioso instrumento para atingir o compromisso com a superação do quadro vergonhoso da exclusão social e dos males da fome. Refiro-me à Lei Federal 11.947/2009, que dispõe sobre o Programa de Alimentação Escolar, por sinal, a melhor contribuição do Governo Lula para os objetivos da “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”. Uma expressão que brotou do coração inteligente do saudoso Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, em reunião do Movimento pela Ética na Política, após o impeachment do presidente Collor (1992).

Naquela ocasião, a concentração de renda e o quadro escandaloso de famintos (32.000.000), resultantes do modelo de desenvolvimento imposto ao país pelo Golpe de Estado (1964), foram apontados como as formas mais perversas de corrupção em nosso país.

Sem dúvida, graças à ação da família, da sociedade e dos governos, houve avanço significativo na redução da miséria e dos males da fome através de iniciativas solidárias e de programas de assistência social, tais como Bolsa Família; contudo, não se deve ignorar, que a insegurança alimentar e nutricional, segundo dados oficiais do próprio governo, paira sobre milhões de lares brasileiros. O problema é maior e mais sério do que se admite, por causa de alimentação insuficiente e/ou inadequada e pelo grau de envenenamento dos alimentos.

Quase se foi o primeiro ano dos novos mandatários. Nesta etapa, devem prevalecer competência e compromisso. Em 1963, por ocasião do 1º Congresso Mundial do Alimento, o Presidente John Fitzgerald Kennedy afirmava: “Temos os meios e recursos para eliminar a fome da face da terra. Só nos falta vontade”!

Começando com as religiões, quem não tiver pecado, atire a primeira pedra! A crise que atravessamos é mais profunda e abrangente do que gostaríamos de imaginar. Parafraseando o profeta Jeremias (c14), a violência corre solta no campo, a miséria e a fome torturam a cidade. Até os sacerdotes, pastores e levitas, como baratas tontas, perambulam sem entender o que está acontecendo.

Trata-se de uma crise provocada pelo esgotamento de nossa civilização. Vivemos em sociedades excludentes e abortivas! Degradação ambiental, violência, autoritarismo, machismo, são marcas características de uma civilização guerreira e destruidora da vida.

A nova lei que dispõe sobre a alimentação escolar, embora mutilada, aponta o caminho de transformação dessa realidade iníqua e blasfema através de um novo projeto de desenvolvimento em que educação, de um lado, e, do outro, produção, processamento, preparo e consumo de alimentos saudáveis, adequados e solidários, a partir de cada micro região ou bacia, serão os principais instrumentos para combater o êxodo rural, a exclusão social e os males da miséria e da fome. Pensar e planejar o desenvolvimento do país debaixo para cima e de maneira descentralizada

Tratando-se de uma Política de Estado, bem que, até 2025, poderíamos planejar o surgimento de um Brasil justo, solidário, saudável e inteligente, como exigência da democracia, de per si incompatível com miséria e fome.

Nossas crianças e famílias merecem um projeto econômico de produção e consumo de alimentos saudáveis, adequados e solidários, ou seja, uma nova ordem econômica com mercado justo e solidário que não transforme alimento em moeda.

A partir da nova lei que dispõe sobre o programa de alimentação escolar, com recursos de fundo constitucional, moeda produzirá comida! O novo modelo de desenvolvimento vai exigir que outro seja o lastro da Balança Comercial. Jamais, o alimento!

Segundo expressão popular, saco vazio não para em pé. Criança faminta não cresce em sabedoria. Esfrega a carteira escolar percorrendo com o olhar o espaço vazio de sonhos e de festas. Não há modernidade que resista à fome de uma criança.

Sentir fome é um processo saudável quando se tem acesso à comida de boa qualidade e abundante.
Para que a criança possa efetivamente se educar precisa de carinho da família, de um lugar em volta da mesa e de uma casa que lhe ofereça privacidade e salubridade.

E a escola que a acolhe? Até hoje contemplo com orgulho o grupo escolar que me acolheu na minha infância e me lembro com profundo respeito das nossas professoras. Assim como a igreja de minha terra, o grupo escolar era para mim o templo da sabedoria. Quase uma igreja!

Com votos e preces de Paz e Bem, caminhemos a fim de que nenhuma criança morra criança por causa da miséria e dos males da fome (Isaías 65).


Dom Mauro Morelli
Bispo Católico e Peregrino
Indaiatuba, SP, 16 de Outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

VIDA PARA AS CRIANÇAS



Quase na antevéspera do Dia da Criança, quero abraçar as crianças que, neste milênio, foram dadas à luz ou que, ainda, permanecem no seio de suas mães no processo maravilhoso de formação e crescimento.
A celebração do Dia da Criança seja expressão de um pacto social entre famílias, sociedade e governos para garantir que nenhuma criança sofra os males da miséria e da fome.
Passar fome é uma desgraça de consequências terríveis. “Não é só agindo sobre o corpo dos flagelados, roendo-lhes as vísceras e abrindo chagas e buracos em sua pele, que a fome aniquila a vida do sertanejo, mas, também, atuando sobre seu espírito, sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta social. Nenhuma calamidade é capaz de desagregar tão profundamente e num sentido tão nocivo a personalidade humana como a fome” (Josué de Castro - Geografia da Fome – Prefácio).
Na primeira década do terceiro milênio muitas crianças foram dadas à luz e já atingem a idade da adolescência. Como se processa seu desenvolvimento diante dos desajustes e das graves injustiças de nosso mundinho arrogante e presunçoso? Como atingir o desenvolvimento integral, expostas à desagregação familiar e social, à violência e à derrocada de valores fundamentais para a paz nas famílias, na sociedade e entre os povos?
Nenhuma criança é concebida e dada à luz para viver poucos dias (Isaias 65). Deve ser desejada e amada. Sua vida não tem preço e nem pode sofrer barganha. Uma vez concebida, é direito seu contar com a porção de espaço e de oportunidades, de ternura e de outros alimentos que lhe permitam crescer e se desenvolver harmoniosamente e, assim, poder gozar e exercer de forma plena a sua cidadania.
Vivemos num novo século, segundo a contagem dos dias; mas, bastante envelhecido pelo acúmulo de problemas não equacionados.
Em qualquer momento da história, porém, a criança será sempre o sinal que nos é dado para revelar que o mundo está começando de novo.
A criança é caminho da paz. Questiona as certezas e sacode a ordem econômica estabelecida. Bem fazes, criança, em clamar pela tua porção e exigir resposta às tuas perguntas!
Saudemos as crianças que serão dadas à luz nos próximos dias ou meses.
Benvinda, nascitura! Com a tua chegada o mundo poderá ser mais justo, mais verdadeiro e mais bonito.
Vem! Na tua singularidade nada se repete, mas tudo se completa e renova. Teu nascimento é alvorada de um novo tempo. Tu és uma dádiva divina, luz bendita!
Que a profecia se cumpra. Tua peregrinação te conduza por longos caminhos e que aprendas a te dar à Luz.
Teu nome será revelado nas esquinas e encruzilhadas. Em cada acolhida ou barreira em teu caminho, tua identidade será definida e teu rosto conhecido. Escolhe o caminho da Vida.
Desejo-te uma boa e segura viagem até que possas desembarcar do ninho de amor em que foste concebida. Que tua mãe seja proclamada bendita e cheia de graça, ao lado de um homem fiel e amoroso. Amém.

+ Mauro, bispo católico e peregrino

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PATRIARCA DA ESPERANÇA

Em Nova Iguaçu, nesta tarde de 07 de outubro, Festa de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja celebra a Páscoa do Padre Agostinho Pretto.

Em 1959, como estudante de filosofia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, em Viamão, primeira capital do Estado do Rio Grande do Sul, encontrei um jovem padre comprometido com a evangelização segundo o método: ver, julgar e agir.

O seminário era invadido toda semana pela JAC,JEC,JOC, JUC, JIC e MFC. Entre os invasores se destacava Agostinho, o robusto padre da Juventude Operária Católica.

Seminarista de Dom Ernesto de Paula, primeiro bispo diocesano de Piracicaba, mal acreditava no que presenciava nos amplos corredores e salas daquele seminário.

Fui descobrindo um novo jeito de ser cristão e uma nova perspectiva para o pastoreio. Já se vislumbrava que um novo mundo é possível. Tudo pode ser diferente e melhor também na Igreja.

Além do Agostinho, como esquecer o bispo auxiliar Dom Edmundo e o Reitor de Viamão, Monsenhor Atílio Fontana, entre outros mestres da evangelização em diálogo com a vida do povo e sua cultura, com suas dores e alegrias, conforme logo em seguida viria ensinar o Ecumênico Concílio.

Nesta tarde, neste espaço bendito de comunicação, louvo a Cristo, Bom Pastor, pela vida e testemunho do padre Agostinho Pretto.

Padre Agostinho, puro como Abraão, grande como Moisés, teimoso como Jacó, austero como João Batista e fiel como José e Maria, era exímio articulador de energias e inciativas em favor da dignidade humana.

Que testemunho e legado deixa esse gaucho corajoso e ousado. Jamais dependurou as sandálias de pastor. Abrindo mão do próprio ninho, assentou a tenda de peregrino na Baixada Fluminense.

Como primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias e São João de Meriti, Agostinho sempre esteve a meu lado incentivando, apoiando e cobrando fidelidade ao povo da Terra Santa da Baixada Fluminense.

Profeta da Justiça nas relações de trabalho, como pastor amou seu povo até o fim, sem reservas e sem medo.

Cristo, nosso amado Mestre e Pastor, o Agostinho é teu. Guarda-o por todo o sempre no Teu Reino. Amém. Aleluia!

+Mauro Morelli, bispo católico e peregrino

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A UTOPIA DE FRANCISCO

A Brisa Suave roçou de leve o rosto enamorado do Trovador de Assis.
Os reflexos do poder e da riqueza foram ofuscados pelo esplendor da Luz inundando um vazio.
Deserdado do poder, do ouro e do prestígio, Francisco acorda para um mundo de poesia.
Toca com as mãos e com os lábios o que, antes, era oculto e distante, mistificado e coberto pelo véu da magia.
Sente o cheiro da terra e o perfume da natureza.
Saltando como um cabrito e balindo como cordeiro; leve como um pássaro, voa pelo espaço, acariciando o rosto da lua.
Mergulha os olhos na imensidão do firmamento, refletindo o brilho e a beleza das estrelas.
Cantando ao ritmo das águas, exulta com a sinfonia da grande orquestra da vida.
Proclama a grandeza do Criador e Pai, louvando o Senhor pelo encanto das flores e pela beleza dos olhos do mendigo.
Reveste as chagas repugnantes com o manto real do amor que transforma tudo em vida singela e livre.
Vendo templos e palácios em ruínas, percorre estradas como peregrino do Amor que não é amado e profeta de um tempo novo.
Sem amarras ou empecilhos, vê crescer, cada dia, os companheiros que transformam um pedaço de pão e um copo d´água na ceia da fraternidade, uma mesa posta no centro do Templo da Natureza e da História da Humanidade.
Não visando o lucro ou a posse do ouro, enaltece o trabalho que não faz escravos; tarefa de homens livres, buscando o pão de cada dia.
Na sua Regra de Vida, pássaro, animais e todo o ser humano, têm primazia na posse da terra e direito sagrado ao farnel de alimento.
Em pequenas fraternidades, sem senhores ou súditos, animadas por ministros, anuncia o futuro e a chegada de um novo Reino.
Paz e Bem, na simplicidade e na alegria da vida, são as luzes que iluminam a Cidade da Utopia.

+Mauro, bispo católico e peregrino
Do livro "Amanhecer do Novo"- Editora Vozes -1985
Festa de São Francisco de Assis – 04/10/2011