terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Dom Luciano, rogai por nós!




Quem não reconhece que Dom Luciano foi exímio na caridade, a tal ponto que o bom samaritano e pastor, quando chegava no horário, estava com 24 horas de atraso?!

Após dia intenso de serviço na vasta Arquidiocese de Mariana, passava a noite num ônibus a caminho de São Paulo para acudir alguém aflito pelos desencontros da vida.  Como esquecer os desastres nas estradas tortuosas e os longos calvários?

Um santo que acumulava agendas de jesuita para bispo auxiliar, de secretário geral  e presidente da CNBB para arcebispo de Mariana.

Sempre cercado de gente sofrida e excluída, pagando uma média para algum faminto e apartando briga de "embriagados"nas madrugadas frias da Paulicéia. Em Roma, cultivava as mesmas predileções.

Acima de tudo um mártir da colegialidade episcopal à frente da CNBB, por dezesseis anos, atento aos bispos e paciente no diálogo com a Cúria Romana.

Quantas vezes, hóspede da CNBB, durante governo Itamar, não levantava sua cabeça pousada sobre a Liturgia das Horas para recomendar-lhe que Deus também se agrada quando deitamos a cabeça no travesseiro. Em Itaicí, já tarde da noite, o acompanhava até ao refeitório dos jesuitas para que tomasse algum alimento.

Meu santo irmão, Dom Luciano, rogai por nós! Ate fiquei bispo por causa de tua mãe.Te recordas Padre Mendes, da assembléia do episcopado paulista em junho de 1971?

Rogai por nós, sim. Com tua capacidade de síntese e coração misericordioso, transformavas palhas em limalhas de ouro. Nem os chifres do demônio eram desperdiçados.

Como poucos, ousaria dizer, privei da intimidade e das confidências de Dom Luciano. Quantas memórias benditas de um homem portador de luz e incapaz de guardar amarguras.

Sua primeira entrevista como secretário geral foi cercada de fumaça; não de incenso, mas das baforadas de jornalistas que não entendiam o milagre da sua eleição. Levou tempo para que prevalecesse o incenso.

Rogai por nós, santo malabarista. Como foi hábil em Puebla. Sua habilidade era exercida com grande humildade.

Roga por mim, irmão e amigo Luciano! Te alegravas porque "não me tinha corrompido" ocupando uma cadeira no Palácio do Planalto.

Sempre é perigoso ser bispo, também despojado da glória e do poder que circundam os bispos no comando da barca que lhes foi confiada. Perigosa a corrupção que nega a colegialidade e impede a comunhão.

Nesta manhã, antes de escrever um comentário sobre o texto base da Campanha da Fraternidade, fui levado a invocar Dom Luciano.

Quem puder entender, entenda.

Indaiatuba, SP, 21 de Fevereiro de 2012 - Feriado do Carnaval

+ Mauro Morelli, bispo católico e peregrino




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